No post anterior falamos um pouco sobre o pavimento intertravado permeável, e hoje vamos comentar sobre alguns conceitos importantes para esse sistema construtivo. O primeiro conceito é que a área de um pavimento permeável e eventuais áreas de contribuição devem ser consideradas 100% permeáveis, ou seja, não vão gerar escoamento. Essa informação é necessária para respeitar legislações de uso e ocupação do solo e outras.
Toda a água da chuva que incide nesse pavimento será infiltrada na sua estrutura, desde que seja projetado, executado e mantido corretamente. A ABNT NBR 16416 inclusive menciona essa informação: os locais revestidos com pavimentos permeáveis devem permitir a percolação de 100 % de água precipitada incidente sobre esta área, bem como 100 % da precipitação incidente sobre as áreas de contribuição consideradas no projeto, desde que cumpridas as especificações desta Norma.
Quando se fala da pavimentação permeável alguns conceitos de hidrologia são necessários para o entendimento do sistema. Frequentemente ouvimos no telejornal que choveu 100 mm – mas o que isso significa? Normalmente medimos a chuva em milímetros e essa altura significa que em uma área de 1 m2 choveu um volume de 100 litros de água. No Rio de Janeiro essa altura de chuva apresenta uma duração típica de 3 horas(1).
Mas nem toda chuva vira escoamento superficial, ou seja, “enxurrada”. Uma parte da água é retida pelas arvores, depressões no terreno e infiltrada – a diferença dessas perdas é a parcela da água que efetivamente escoa. Em uma área com terreno natural e presença de arvores 5% a 20% da água da chuva se transforma em escoamento, enquanto em uma zona altamente urbana esse valor pode chegar a 95%! Esses valores são chamados de coeficiente de escoamento superficial, ou coeficiente de runoff.
Em um estudo realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estes valores de coeficiente de escoamento superficial foram medidos para diversos tipos de superfícies. O gramado apresentou 66% de coeficiente de escoamento, o que mostra que apesar de ser considerado permeável pela maioria das legislações o solo não garante a infiltração da água da chuva. O concreto convencional apresentou 95% de escoamento, enquanto o pavimento intertravado convencional 78% – veja que o pavimento intertravado convencional, mesmo não infiltrando água já apresenta um valor inferior ao concreto! E o pavimento permeável avaliado praticamente não gerou escoamento superficial, infiltrando quase toda a água da chuva.
A infiltração da água é a parcela mais significativa nessa transformação de chuva para escoamento superficial. A capacidade de infiltração é normalmente medida em mm/h e varia com as caraterísticas do terreno e das condições hidráulicas da água na sua superfície. O órgão americano SCS (Soil Conservation Service) fornece alguns valores de referência, podendo variar de 25.4 mm/h para solos muito permeáveis a 2.5 mm/h para solos praticamente impermeáveis. Um pavimento intertravado permeável apresenta valores na faixa de 3600 mm/h, medidos usando o método proposto pela ABNT NBR 16416. Esse valor não apenas é superior aos valores típicos do solo mais também superior aos valores possíveis de intensidade de chuva, ou seja, o pavimento consegue infiltrar mais do que chove! No caso da chuva de 100 mm no Rio de Janeiro(1) , que apresenta uma intensidade típica de 36 mm/h, a capacidade do pavimento de infiltrar é 10 vezes superior a intensidade da chuva! Mesmo a intensidade mais alta – 140 mm/h(1) – ainda é significamente inferior a capacidade de infiltração do pavimento.
Ou seja, o pavimento intertravado permeável tem uma capacidade de infiltração muito alta que consente não gerar escoamento superficial e infiltrar 100% da água da chuva que incide na sua área! O importante é considerar no projeto onde essa água vai depois de ser infiltrada pela superfície do pavimento, ou seja, dimensionar corretamente a base e, se necessário, contemplar tubos de drenagem para escoamento da água. Esses assuntos serão vistos com mais detalhes nos próximos posts.
(1) Considerando a curva IDF Ulysses Alcântara no Jardim Botânico (RJ) para um período de retorno de 10 anos.
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